A sociedade eficaz num mundo inseguro
Fernando Carvalho Rodrigues
Professor da Universidade
Independente - Lisboa
Nenhum de nós sabe tecer.
Estamos todos vestidos. Nenhum de nós sabe curtir pele. Estamos todos
calçados. Poucos de nós abrimos, alguma vez, um poço. A
água jorra nas nossas casas.
Em qualquer momento podemos encomendar seja o que fôr. Ser-nos-á
entregue em casa mediante um pagamento feito a alguém que nunca veremos.
Tenho uvas em Bruxelas e em Março. Encomendamos livros em livrarias onde
nunca fomos. Mandamos vir livros muito antes de estarem publicados. Podemos
ter tudo em todo o lado em qualquer tempo.
Somos uma sociedade eficaz.
Construimos a estabilidade desta sociedade com inovação, hiperespecialização
e com a eliminação da redundância.
Na minha aldeia, em Casal de Cinza, era sabido que todos podiam substituir todos
os outros em quase todas as tarefas. Talvez o ferreiro e o sapateiro fossem
as excepções.
Hoje, se por qualquer motivo, aqui em Vila Real a meia dúzia de padeiros
que ainda existe cessasse de fazer pão não haveria pão
na cidade por muito tempo. Mesmo quem saiba fazer pão não saberia
onde se abastecer dos ingredientes para todo o que esta cidade necessita. Aliás,
os componentes do pão são também entregues “just
in time”. Ninguém armazena. Chega a farinha. É apenas e
tão só a estrictamente necessária para o pão daquela
hora.
As tecnologias associadas à satisfação em tempo real e
a eliminação da duplicação trouxeram à sociedade
eficaz um decréscimo significativo na sua capacidade de recuperação
sempre que se vê privada de um dos seus elementos.
Em Casal de Cinza todos podiamos substituir as funções de todos.
Aqui na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro bem como em todas
as boas universidades pretende-se que cada um e cada qual seja verdadeiramente
único nos seus talentos e no domínio das suas ciências e
técnicas. Todos sabemos o que acontece quando um elemento crucial falta.
Quando a senhora ou o senhor tal não veio, não apareceu é
o pânico e a tragédia, a frase tantas vezes dita: “eu gostava
de resolver o problema mas o senhor tal não veio...”.
O desaparecimento de algum grau de redundância que contrabalance a hiperespecialização
trouxe alguma falha à capacidade de regeneração da nossa
forma de viver.
Fazemos tudo para a superar recorrendo à inovação. Todos
ouvimos já falar de tal coisa. Vêmos nas bibliotecas prateleiras
e prateleiras repletas de livros sobre inovação. Pomo-nos a questão
dos que é a inovação? E por isso voltamos a ler todos os
livros. Mas à questão do que é inovação os
que escreveram os livros e os que lemos todos os livros respodemos com tiradas
tão compridas quanto os livros.
Hoje, gostava de examinar um conceito velho de quatro séculos: o conceito
de acção.
Descartes, Fermat, Maupertuis, Leibniz, Euler, D’Alembert, Lagrange, Koenig,
Hamilton, Jacobi e Poincaré tornaram-no central na física e alguns
quiseram ver nele uma profunda ligação às causas finais
e, portanto, à teologia natural. Contudo não ficou cultural como
o da energia. É cultural dizer que a natureza o que quer que seja com
um mínimo de energia.
Pois há quatro séculos que se sabe que é com o mínimo
de acção.
A acção tal como definida por Maupertuis é o produto da
energia pelo tempo. A acção de seja o que fôr é a
energia do que se gastou para o fazer vezes o tempo que se levou para o realizar.
Se o tempo fôr constante então a natureza faz as coisas pelo mínimo
de energia. Mas só se o tempo fôr sempre o mesmo. Se não
fôr pode ter que ser feito com muito mais energia para gastar a menor
acção.
Então de cada vez que por modificação de um método
ou de um processo a acção para construir o executar algo decresce
podemos dizer que estamos verdadeiramente perante uma inovação.
Se não passar este teste poderá ser novo mas não é
uma inovação. Uma nova acção.
Podemos traçar a nossa evolução calculando por exemplo
a quantidade necessária para se vir da terra dos belgas até à
dos lusitanos. Quando as estradas eram apenas as terrestres, as do génio
romano eu transportaria o meu peso através de dois mil e duzentos quilometros,
o produto dá a energia necessária para a deslocação.
Levaria oitenta dias e esse seria o tempo. A acção, produto de
energia pelo tempo seria da ordem de 1015 joule . segundo. Quantas vezes viria?
Presumivelmente nunca. Com as estradas do mar dos portugueses os oitenta dias
de viagem reduziram-se a oito e a acção a 1014 joule . segundo.
Já poderia, então, vir muitas vezes. Foi com este abaixamento
de acção, com esta inovação que se iniciou o comércio
mundial. Foi assim, que a acção que era infinita para chegar ao
Japão, uma vez que não se ia ao Japão, passou a ser finita
ainda que a viagem fosse de dois anos e meio. De qualquer modo tamanha foi a
inovação que se iniciou há quinhentos anos a entrada do
Japão no concerto das nações.
Hoje venho de Bruxelas a Vila Real em duas horas. Pelo menos passo-lhe por cima.
A acção passou a ser de 1010 joule . segundo. Este decréscimo
faz com que eu venha sempre que posso com a maior alegria.
Agradeço, penhoradamente, a Vossa Excelência, Magnifico Reitor
o ter-me dado o previlégio de dar esta lição à Academia
da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
A aeronautica foi, por causa do decréscimo da acção que
introduziu no transporte, uma enorme inovação. E como é
uma inovação a sociedade eficaz aderiu de imediato à viagem
aérea.
Suponham, agora, que a videoconferência era maior do que a promessa que
apesar de tudo ainda é. Em vez do meu peso seria apenas o de alguns electrões.
A distância seria de setenta e dois mil quilómetros porque teriam
que ir até a um satélite geoestacionário, levariam cerca
de duas décimas de segundo. A acção envolvida seria da
ordem de 10-23 joule . segundo. Por isso todos os humanos que fazem parte da
sociedade eficaz estão pendurados nas telecomunicações.
Trouxeram até aos humanos a capacidade de trocarem pensamentos a um escala
não imaginável. A acção para ir de um até
outro é de tal maneira pequena, a inovação de tal forma
grande que me atrevo a dizer que a nossa vocação é de ser
telepata. Hoje, em teoria, podemos partilhar os nossos pensamentos com todos
os outros humanos que têm um telefone. O telefone já é portátil.
Têm as dimensões que tem para não se perder na mão.
A electrónica do telefone é minúscula. A fonte de energia
ainda é grande. A minutorização ter sido galopante. Tal
como o avanço do nosso conhecimento.
E para onde nos tem levado o conhecimento? Certamente para o bem estar e para
o conforto. Para o aumento da qualidade de vida. Para o controlo, em alguma
medida, das ameaças permanentes à existência do Homo Sapiens
Sapiens: a fome, a peste e a guerra. Três dos quatro Cavaleiros do Apocalipse.
Por tudo isto é com alguma tendência para ver uma metáfora
e não uma realidade no versículo 2:7 do Génesis: “Da
àrvore do conhecimento do bem e do mal não comerás: no
dia em que dela comeres certamente morrerás”.
Assim vale a pena hoje fazer aqui um exercício: na nossa evolução
no planeta quantos de nós somos necessários para destruir a humanidade
à medida que o nosso conhecimento foi avançando. Claro que nunca
poderemos calcular com exactidão. No fim o que nos interessa é
a evolução do coeficiente de extinção por ordens
de grandeza. Se chamarmos coeficiente de extinção a esse número
sabemos que durante a pré-história e grande parte da história
a autodestruição da espécie humana só teria sido
possível com o altamente improvável suícidio ou assassínio
colectivo. Mesmo com os envenenamentos da àgua, de alimentos, ou com
a exposição de cidades a defuntos infectados com a peste seria
impossivel. Até ao final do século dezoito foi assim.
Depois, a introdução da guerra mecanizada, a produção
em massa de armas e munições e o seu transporte fizeram crescer
o poder destrutivo da guerra. Contudo ainda não estava ao alcance da
humanidade o auto aniquilar-se. Foi preciso esperar um século. Por volta
de 1940-50 atingiram-se os meios que podem destruir o mundo. No entanto o fabrico
e a proliferação de armas nucleares requer um esforço de
que só governos e estados são capazes. Para as fabricar são
precisar de milhar de pessoas e um investimento muitíssimo grande. A
situação está a mudar. Quanto mais aprendemos como espécie,
menor é o grupo de pessoas capaz de levar a destruição
a todos nós. Sem dúvida que as armas nucleares são capazes
de acabar connosco à superficie da Terra. No entanto o que é preciso
para o fazer é imenso. No presente, o entendimento da linguagem química
da biologia associado à engenharia de seres vivos parece oferecer uma
alternativa que leva ao mesmo fim. A nanotecnologia e a robótica fácilmente
se lhe associarão. Que tecnologias poderão emergir no futuro com
o potencial de destruição maciça.
Resumindo: até 1950 era preciso toda a humanidade. Após 1960 seram
necessários um milhão. Com o advento da produção
em massa de engenhos nucleares o coeficiente de extinção passou
para as dezenas de milhar. A nanotecnologia, a robótica e a engenharia
da vida para as centenas senão para as dezenas. Não sabemos de
quanto será a queda no coeficiente de extinção. Sabemos
concerteza que caiu de forma consistente e constante. Então algures no
futuro, próximo ou longinquo, a destruição da humanidade
estará ao alcance de um ser individual. De um de nós. Apenas um.
Quando o coeficiente de extinção fôr um; quando o conhecimento
envenenado de um de nós fôr suficiente para nos aniquilar a todos
qual a esperança de sobrevivermos? Nesse momento, alcancaremos o ponto
do holocídio da especie. Aí a nossa destruição é
em toda a aparência inevitável. O que tem vinda a potenciar o holocídio
é o conhecimento de tecnologias que podem ser utilizadas em genocídio;
a dessiminação do seu conhecimento o seu design por capacidades
computacionais cada vez mais extensas; a disponibilidade de partes e peças
na infraestrutura comercial. Os componentes para desenvolver as armas de destruição
maciça, computadores, software, códigos genéticos bioreactores
estão à venda em lojas abertas nas nossas ruas. A sua disponibilidade
é crescente.
Contudo, apesar da lógica, a humanidade poderá ser tudo mas nunca
é simples. Talvez vejamos a utilização localizada e limitada
da tecnologia destrutiva, o seu horror instigado e provocado pelo ódio
racial, pela inveja, pelo fanatísmo, pelo terrorismo. Talvez vejamos
o isolamento de comunidades nas novas versões da Arca de Noé.
Talvez tenhamos a capacidade de previsão de quais as tecnologias perigosas.
Talvez tenhamos a inteligência para identificar as ameaças. Talvez
sejamos capazes de inventar a paz.
O melhor que nós humanos conseguimos até aos dias de hoje foi
obra de um prussiano. Filho das luzes, Immanuel Kant, acreditava na existência
da precepção inata de uma moral universal. A partir de Kant o
desejo de paz é mais do que uma intenção piedosa. É
de facto um conceito “uma semente vinda do iluminismo que sobreviveria
a todos os desastres, que asseguraria uma continuação do progresso
até ao fim almejado”. Por muito improvável que uma tal finalidade,
um tal fim possa parecer kant insistia “é o nosso dever agir de
acordo com a ideia de um tal objectivo (que a razão impõe mesmo
quando não há a menor proabilidade de o alcançar)”.
Este imperativo da busca da paz foi verdadeiramente a sua primeira invenção.
Deve-se a Kant. Para nós ficará a longa caminhada do processo
de paz no mundo.
Ora nós sabemos que o mundo é pequeno.
Se cada um de nós tiver cinquenta amigos. Se cada um desses amigos tiver
outros cinquenta. Podemos contar com duas mil e quinhentas pessoas que nos são
próximas em dois contactos. Com três contactos aí estão
cento e vinte e cinco mil. Mais outro contacto e no quarto contacto seis milhões
duzentas e cinquenta mil. Com cinco contactos temos acesso a trezentos milhões.
Mas, com meia dúzia aí quinze mil milhões. Muito mais que
todos os seres humanos que hoje existem. Claro, que como haveria entre os contactos
sucessivos amigos comuns não atingiriamos aqueles quinze mil milhões
de pessoas. Mas, mesmo assim, com seis contactos eis-nos em interacção
com seja quem fôr na Humanidade.
Nos anos sessenta do século passado fizeram-se muitas experiências.
Foram iniciadas em 1967 por Stanley Milgram de Harvard, para medir quantos contactos
são necessários para, em média, duas pessoas, que se desconhecem
em absoluto, se encontrarem a partir da cadeia do Amigo, do Amigo, do Amigo...
O resultado foi de cinco contactos e meio em média. Ou seja: digo a um
Amigo que gostaria de falar com um determinado pastor, o senhor fulano de tal,
do Tibet. Depois de ele dizer a outro dos seus Amigos. Seis contactos mais à
frente eis que eu sou levado ao tal pastor no tecto do Mundo.
O nosso Mundo, que é , também, o Mundo de todos os outros, é
então o da família, dos amigos próximos que por sua vez
se movimentam na sua família e bolsa de amigos. Quando queremos trabalho
ou precisamos de auxílio falamos a um dos amigos do primeiro ciclo que
fala a outro do seu próprio grupo. E é por isso que acaba sempre
por ser um conhecido que nos apresenta a alguém com quem trabalhamos
ou para quem trabalhamos, que é nosso cliente ou de quem somos clientes.
Também houve variadíssimas experiências concebidas e realizadas
para verificar se assim era. Os resultados mostram que em média o primeiro
trabalho ou negócio veio através de um conhecido. É curioso
que não seja, por regra, um familiar ou um amigo íntimo. É
interessante que seja uma pessoa no segundo contacto. Um conhecido. O seu papel
na economia tem sido estudado intensamente a partir do trabalho de Mark S. Granovetter
em 1973. Em economia e em teoria de informação chamamos-lhe: A
ligação fraca (weak ties). O conhecido. É quase estranho
ler artigos de economia sobre “a força da ligação
fraca” (The strength of weak ties). Granovetter publicou mesmo um livro
em 1994 sobre o assunto: “Getting a job”, “Arranjar um Emprego”
publicado pela Harvard University Press.
Em última análise, um livro sobre o velhíssimo “padrinho”
que arranja o primeiro emprego. Sobre o seu papel humano na engenharia humana.
Ligado em rede, na rede da vida.
Mais recentemente com Albert-László Barabási a rede, os
factos da vida, esses factos tem vindo a ser postos perante a inevitabilidade
de terem que ser tal qual são.
É que as propriedades das redes matemáticas que podem servir de
modelo à nossa família, à nossa rede de amigos, de vizinhança
e de conhecidos coincidem com o que a experiência da vida nos traz.
Claro, que nunca saberemos se nós e a humanidade é assim porque
a matemática, conhecida por Teoria do Mundo Pequeno (Small World Theory)
assim o exige ou se a matemática mostra uma grande aderência com
a realidade porque somos nós a fazê-la.
Seja como fôr, qualquer de nós, está, no máximo,
a uma distância de seis contactos de seja quem fôr no planeta.
E, no entanto, sabemos, no fundo dos nossos corações, que a mudança
do mundo está a mudar. A competição na economia de mercado
maximizou a eficácia e a estabilidade à custa da capcidade de
regeneração. Por esta razão a vulnerabilidade das nossas
sociedades eficazes é enorme.
A sociedade eficaz só existe num ambiente de paz. Só prospera
numa atmosfera de obediência. Só acontece quando não é
atacada nas suas fraquezas. Mas, nenhuma sociedade pode evitar ataques à
sua hipereficácia.
Damos crédito à ciência, à tecnologia e à
engenharia. Dos seus resultados emergeu a sociedade em que vivemos. De facto,
a investigação cientifica de base ao remover a ignorância
de áreas críticas têm-nos dado novas aproximações
que nos levam a soluções mais fáceis para os problemas.
Contudo o maior dos problemas do nosso tempo reside na interligação
profunda de elementos críticos de toda a infraestrutura social. Pouco
se faz do ponto de vista dos sistemas. A melhoria da qualidade de vida toca
todas as áreas de uma Universidade. Não só as áreas
técnicas. Chegou a altura de dar atenção às ciências
sociais de comportamento e às humanidades. Precisamos de criar uma arquitectura
que defina não só a estratégia para utilizar ciência
e tecnologia para o incremento da qualidade de vida mas que propicie uma gestão
que leve à sua execução. No final, requer a aproximação
de sistemas ligados e a colaboração de multiplos sectores.
Por enquanto o pensamento universitário ainda não está
adaptado a um contexto de trabalho multidisciplinar para encontrar soluções
no âmbito dos grandes sistemas em que vivemos. Mas, é nas universidade
que estão muitos dos recursos básicos que as fazem candidatas
para a contribuição de componentes que farão a prosperidade
da sociedade eficaz ainda que num mundo inseguro.
A Universidade tem capaz de fazer investigação para criar novas
opções e competências, tem ligações privilegiadas
com serviços e industrias, providencia acesso a colegas professores e
a estudantes em todo o mundo. Tem para além das capacidades nas ciências
da engenharia as que contribuem para as ciências sociais, ciências
da comunicação e para as humanidades. A compreênsão
do individuo e da sociedade é fundamental para saber como vão
responder a quaisquer planos.
Se não entendermos o comportamento humano o mais certo é chegar
à elaboração de estratégias e a soluções
que são irrealistas. A introdução das ciências do
Homem, certamente que aumentará o nível de complexidade num processo
que já é complicado. Mas, se não percebermos como se geram
as incertezas nas nossas crenças e nas nossas emoções,
senão conhecermos o que nos leva à tomada de decisão, mesmo
como especialistas, nunca perceberemos como se dá forma ao futuro.
E o futuro tem processos para os quais não temos resposta. Algo que não
sabemos por completo explicar. A ciência, a tecnologia e a engenharia
que nos trouxeram a sociedade eficaz geraram as armas da sua destruição.
Terá que haver uma mudança radical na cultura da ciência
que desencoraje o seu uso.
Como cidadãos temos que entender os processos psicológicos dos
nossos especialistas para sabermos se sim ou não podemos confiar na sua
opinião. Como especialistas temos que transmitir uma medida realista
da nossa própria competência para que o público tenha confiança.
Para tal, é preciso, também que haja concistência na comunicação
com o público. Ou se informa ou se persuade. Ou os factos ou a teia dos
factos.
Em tudo isto estará o papel das ciências do Homem. A importância
do todo é por demais evidente. A prosperidade, depende da prosperidade
económica, da melhoria ambiental, da melhoria da saúde e da segurança
pessoal. Para contribuir para uma vida melhor temos que compreender as forças
sociais, psicológicas, culturais que estão a mudar a mudança
do mundo.
Ora, a Universidade e não só a Universidade, e não só
os seus departamentos de ciências, de ciências de engenharia e tecnologias
onde se geram novos conhecimentos que se transformam em novos produtos é
a instituição onde tudo deve acontecer. A palavra Universidade
deriva de “Universitas” que quer dizer “todo” ou “corpo”.
Contudo, muitas vezes esquecemo-nos da missão no seu todo, centramo-nos
no departamental, iludimo-nos na segmentação. Na Universidade
temos que nos lembrar, constantemente, do todo da Universidade e sabermos, por
experiência, que em qualquer actividade necessitamos do complemento de
todas as ferramentas que todas as instituições dentro da Universidade
nos podem trazer. Em tempos de crise é bom recordar que o símbolo
chinês que expressa é composto pelo símbolo que representa
perigo e pelo que que significa oportunidade. A Universidade tem um papel central
na compreensão e na prevenção da instabilidade em cada
nova geração.
Eu sou devedor a todos os colegas que na Universidade fazem investigação
e ensinam Scientia em todas as suas facetas por terem trazido até à
Universidade um entendimento muito mais aprofundado da incrível interconectividade
do nosso mundo. Em todo o planeta, as pessoas tem que lutar, todos os dias,
nestas novíssimas condições. Têm até sido
forçadas a alterar as suas tradições, incluindo as religiosas
porque tinham sido concebidas, tinham evoluido, tendo em conta outra sociedade.
Por isso, não há alguma razão para o isolacionismo das
diferentes disciplinas, das diferentes ciências e tecnologias. O conflito
entre as duas culturas podia existir num mundo mais simples, numa sociedade
mais, muito mais, obediente.
Hoje, temos que alargar a nossa educação a todos os campos de
conhecimento se queremos ter algum sucesso na compreensão da complexidade
e da complicação do nosso mundo.
Todos os estudantes devem ser capazes de responder a estas duas perguntas:
qual a relação entre a ciência, a engenharia e as ciências
do Homem?
Em que medida podem, esses saberes contribuir para o bem estar dos seres humanos?
Muitos dos assuntos que hoje nos envergonham (conflito económico, escalada
de armamento, sobrepopulação, aborto, ambiente e sobretudo guerra
e pobreza) não podem ser resolvidos sem a integração das
ciências, de todas as ciências, das do espirito, das da matéria
e daquelas onde o espirito encontra a matéria.
Só uma troca fluente através das fronteiras dos diversos domínios
do conhecimento poderá trazer uma visão mais clara do mundo tal
qual ele é.
Preparar este estudante é o objectivo da Universidade. Preparar neste
espirito a nova geração é o nosso risco e o nosso dever.
Mas é também a nossa alegria. Porque todos sabemos porque estamos
aqui. Nós estamos na Universidade, na Universidade de Trás-os-Montes,
Magnifico Reitor, porque os estudantes, estes estudantes, são a nossa
alegria.